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Jellyfish-Girl

Angélica Vidal
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APOLO

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Não fossem os dias chuvosos e as manhãs de sol que acompanharam minhas muitas primaveras, talvez eu não fosse o que sou hoje. A vida não tem graça sem as manhãs de sol, e estas nada seriam sem as manhãs de chuva.

O céu é meu medidor de melancolia.

Assim como o girassol fica perdido na ausência do astro, meu dia se perde em nostalgia. Preciso do calor para aquecer a vida e da luz para fazer brilhar o que eu vejo.

Nunca é a mesma coisa sem ele...

Não é de se espantar que Apolo, o deus mais belo, seja também o deus do Sol.
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CHILI

2 min read
A chuva está caindo e ela está escrevendo. Não que a cena fosse estranha, não era esse o ponto. A questão toda é que ela gosta da chuva e mesmo assim está de costas para a janela. O som da música é sufocado pelo som dos pingos caindo na tela.

"Dreaming californication...."

A música é agradável, a chuva também, por que os dois juntos não dariam certo? Para ela não importava o senso comum, estava bem assim e assim iria ficar.

Deixemos a moça um momento, vamos agora falar do rapaz atrás dela. Infelizmente ela não pode vê-lo. Não é permitido. E mesmo se fosse possível, o rapaz não ousaria interromper o sorriso que ela faz enquanto escreve. Ele é capaz de ver o filme que passa na mente dela, a história que ela escreve. Inconscientemente ele sorri. Ele está na história. Fosse como fosse, não podia contar-lhe que estava certa em cada palavra.

"Give it away, give it away, give it away now...."

Só agora que ela percebe que a música mudou e olha pra trás se sentindo um pouco boba. Ela está tão entusiasmada com a história e se sente uma criança brincando de faz-de-conta. Sua risada é baixinha, seus dedos param um momento e, então, voltam a trabalhar fervorosamente.

Ele ri. Uma pena ninguém estar lá para ver a cena graciosa da risada leve e delicada do rapaz. Seu olhar é quase como um olhar apaixonado, quase. Tem um quê de mistério, de certeza. Um olhar que encantaria a mais perversa das pessoas. Entretanto, não tinham pessoas perversas lá, havia apenas uma garota que escrevia.
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ASAS AZUIS

1 min read
A folha sobe vagarosamente até a copa da árvore, a areia volta para a pá da criança, a lágrima da menina volta para o olho e o sorvete para a casquinha na mão dela.

O homem de fraque não gosta de ver garotinhas chorando, foi por esse motivo que tudo parou quando o sorvete estava no lugar onde deveria estar. A menina ainda sorria. Tempo tirou a cartola e olhou ao redor. A mãe estava longe, o irmão brincando com a areia. Ao olhar na mesma direção em que a menina olhava, viu.
Eram asas azuis com manchas amarelas pregadas nas costas de uma borboleta. "Linda!", teve que confessar. Imaginou, então, o ocorrido e viu no pequeno inseto voador o motivo da lágrima.
Levemente tocou numa das manchas amarelas e a borboleta voou. Pronto, agora podia dar o play na vida.

A folha cai da árvore, a areia cai da pá e a menina sente o gosto doce gelado do sorvete.
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A vela pinga, o menino sopra, a cera seca, o menino toca.

Ainda era dia e de nada serviria aquele toco de vela gasto. E mesmo que já fosse noite, não daria pra ver quase nada do quintal enorme. Um ventinho morno soprou o rosto do menino, fazendo o cabelo, duro de tanta sujeira, balançar um pouco. Com a mão livre, ele arrumou o cabelo num gesto quase involuntário. O desenho que fazia era mais importante.
E ele não notou na formiga caminhando pelo papel, muito menos no homem sentado alguns metros a sua frente. De fraque, cartola e relógio na mão, Tempo assistia aos movimentos do garoto como quem assiste a um filme.

A vela pinga, o menino sopra, a cera seca, o menino toca.

Um pingo cai no dedo do menino, ele geme. No mesmo instante a vela é colocada ao seu lado e a tábua cai do outro. O dedo é enrolado pela camisa imunda e pressionado pela outra mão. Mas a ansiedade do menino é maior do que a dor do dedo e a tábua logo volta ao seu lugar. Com as duas mãos ele tateia o papel para voltar a posição original, em seguida pega a vela com cuidado e ela volta ao seu trabalho de pingar.

Tempo suspira baixinho (ele não quer atrapalhar o menino).  Porém ele, o Tempo, sabe que se avançar um único passo que seja, a vela apaga; entretanto, ficar ali, parado, também é errado. Mas o que fazer? O homem admira o menino e, por isso, espera.

A vela pinga, o menino sopra, a cera seca, o menino toca.

O sorriso no rosto do menino (e também no do Tempo) aumenta ao passo que o desenho chega ao seu fim. Um último pingo e o menino deixa a vela ao lado. Vendo isso, Tempo levanta-se, o vento sopra, a vela se apaga e o desenho voa.

Inutilmente o menino ergue as mãos, mas a folha que procura já está nas mãos enluvadas do Tempo, fora de seu alcance.

“Você sabia, não é? Eu não podia terminar este também...”

Lamentava-se o menino.

“Nosso trato. Ou então estaremos contradizendo as ordens do Destino...”

O menino fitava o nada, mantendo a cabeça baixa. Tempo sorriu, da mesma forma que sorriria um pai ao ver o filho amadurecer.

“Um dia você vai conhecer a sua galeria.”

E o menino estava só, com os olhos brilhantes de emoção. Enxugou as lágrimas com a camisa suja e assim que abriu os olhos, por um segundo, ele viu a vela.
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Entidades também amam, e isso é algo que aprendi com o Tempo. Mas o amor deles não é algo compreensível por mortais (houve uma vez em que o Tempo se apaixonou por uma loba, mas esta estória fica para outra hora).

Lembro-me muito bem de uma garota, ou melhor, uma mulher (depende da época em que falamos, apenas detalhes para o Tempo). Líliam era uma morena alta de longos cachos negros como a noite. O Tempo reparou nela quando fez 19 anos, apesar da idade possuía o olhar de uma mulher.

Certa vez ela andava pela rua, de bolsa à tira colo e boina, quando foi surpreendida por um homem de luvas brancas olhando para um relógio dourado. Ele olhava o relógio com tanto carinho que surgiu nela a vontade de saber as horas (ainda acho que o Acaso tenha dado uma ajudazinha, embora ele garanta o contrário).

Ao olhar o relógio, Líliam notou que este estava parado.

Por favor, meu relógio parou, você poderia me dizer as horas?”

Sem tirar os olhos do relógio, ele sorriu “Que horas você gostaria que fossem?”, Tempo sabia o nome da moça, mas optou por não assustá-la. Mesmo assim Líliam arregalou os olhos e corou com o olhar lançado pelo homem.

Não costumo desejar horas, apenas aproveito da melhor maneira”. Tempo ficou satisfeito com a resposta, e então, levantou-se e andou até ela com um sorriso calmo.

Adoraria ficar e conversar”, começou Tempo, “mas tenho serviço a fazer”, fez um sinal cortês tirando a cartola e olhou-a nos olhos “Se algum dia você não souber o que fazer com suas horas, me deixe saber".

No momento em que colocou a cartola de volta, Líliam estava sozinha.

Líliam procurou um lugar para se sentar, nem ela mesma podia explicar o que sentia. Afinal, não é comum para humanos pessoas desaparecerem. Pensou em perguntar à alguém se tinham visto um homem de fraque e cartola desaparecer diante de seus olhos. Sentiu-se boba imaginando o quão ridículo ela pareceria perguntando aquilo e deu um sorriso para o céu “O Senhor das Horas, hein?!”

Decidiu-se por não contar a ninguém sobre o ocorrido, aquele seria o segredo dela. Apesar de tê-lo por apenas alguns segundos, procurou um lugar especial em seu coração para guardar o homem. Não precisou mais de um minuto para que uma espécie de amor se desenvolvesse.
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